sábado, 4 de abril de 2009

História do UH

Uma história como a do Universidad é tão rica e tão emocionante, que não poderia ser contada por qualquer um. Pensando nisso, a diretoria convidou Ciro Flamarion, Eric Hobsbawn, Jacques LeGoff, Paulo Cavalcante e Carlos Junior para escreverem as páginas gloriosas desse esquadrão, o que certamente vai impulsionar sobremaneira a carreira desses historiadores.


A história do Universidad começa em 1890 quando os ingleses William J. Thompson IV e Henry Owl, ambos historiadores, desembarcam no Rio de Janeiro trazendo na bagagem um objeto que no futuro seria o responsável por colocar o Brasil no mapa: uma bola de futebol, com a qual participavam de animadas peladas na Oxford University, na Inglaterra. Mas a capital do Brasil nessa época não passava de uma cidade fétida e pestilenta, e logo os bravos historiadores contraíram de uma só vez varíola, sífilis, febre amarela, gonorréia e caspa. Internados, os dois ingleses fizeram amizade com seus médicos e, após lhes ensinarem os fundamentos mais rudimentares do esporte bretão, marcaram o primeiro jogo de futebol oficial no Brasil, História x Medicina, que terminou com o arrasador placar de 14 a 2 para os historiadores. Isso desmente de uma vez por todas a história de que foi Charles Miller quem trouxe o futebol para o país.


Empolgados, William e Henry começam a ensinar futebol e a prática difunde-se no Rio de Janeiro. Mas o esporte só ganharia seu impulso definitivo quando o Positivismo, doutrina filosófica, sociológica e política, chegou ao Brasil através de Zinedine Comte, antropólogo, sociólogo e cabeça-de-área. Influenciados por Comte, William e Henry adaptam as ideias positivistas para a realidade brasileira, nascendo assim o conjunto de doutrinas e esquemas táticos seguido até hoje pelo time do UH: o Negativismo.



Durante a década de 10, o time dos ingleses, batizado como History, já encantava todo o Brasil, quando foi convidado para uma excursão na Europa. O sucesso do escrete já não conhecia fronteiras e depois de passar por vários países, o History participou de um torneio em Londres onde venceu na final o Corinthian (que seria a inspiração para o Corinthians brasileiro) por 14 a 2. Essa excursão, no entanto, ficaria marcada por uma tragédia. Sem dinheiro para viajar da Inglaterra para os EUA onde o History se exibiria, Robert “Bobby” Jefferson, dirigente da equipe, trapaceiano poker e ganha as passagens de um navio recém-construído chamado Titanic, deixando inconsolável o perdedor da partida, um jovem desenhista americano chamado Jack. Depois de bater num iceberg, o Titanic afundou matando todo o time e a comissão técnica do History, tendo como único sobrevivente o próprio Bobby, que se disfarçou de mulher para entrar num bote salva-vidas. Vem daí a lenda de azarado que persegue o Universidad até hoje.


Depois da Primeira Guerra Mundial, para a qual o History foi convidado para disputar peladas com soldados nas trincheiras, o time conquista uma série de vitórias e fica conhecido no mundo inteiro. Os países passam a pagar milhões para verem os historiadores-boleiros em ação. A equipe era imbatível e todos os craques do planeta queriam participar dela. No entanto, foi um outro tipo de craque que determinou o fim daquele esquadrão, mais precisamente o crack da bolsa de Nova York, que levou o History e o mundo inteiro à falência. Apenas o presidente do clube na época, Rudolph Jefferson, conseguiu lucrar, roubando todo o dinheiro do clube e fugindo para Cuba.


Na década de 30, uma família de imigrantes italianos, os LoBianco, instala-se no Rio de Janeiro e trazem do Velho Continente antigos hábitos, como a máfia e o futebol. Os italianos se associam ao combalido time do History e fundam uma nova equipe, o Universitá Italia. Como eram jornaleiros, controlavam a imprensa e logo o Universitá seria manchete em todos os jornais do país. A megalomania do presidente do clube na época, Giovanni Jefferson, levaria o clube a obter o apoio do ditador italiano Mussolini, que queria que o Universitá servisse como veículo de propaganda do fascismo. Assim, o time adotou o uniforme preto e seus jogadores passaram a ser conhecidos como “os camisas negras”. Também se tornou histórico o confronto entre as duas equipes ítalo-brasileiras, o Universitá Itália e o Palestra Itália, que terminou com a vitória de 14 a 2 para o Universitá. Mas a entrada do Brasil na Segunda Guerra acabaria por desmantelar novamente o clube, que assim como o Palestra Itália, teve que mudar de nome para continuar existindo.


Batizado como Universidade Histórica do Brasil, ou UHB, se tornaria o primeiro clube brasileiro a ser patrocinado por uma empresa, a Petrobrás, recém-criada por Vargas. E a onda de vitórias recomeçou e todos queriam tirar uma casquinha do sucesso do time. O presidente JK elegeu a bossa nova e o UHB como símbolos do Brasil que dava certo, e na inauguração de Brasília a equipe participou de um amistoso contra o Gama e venceu o jogo por 14 a 2. No plano internacional, o sucesso do UHB também rompia todas as barreiras. EUA e URSS, as duas superpotências de então, disputavam o prestígio de que gozava o UHB. Por várias vezes o mundo esteve perto de uma catastrófica guerra atômica só porque um país não admitia que o UHB jogasse no território do outro. Até no projeto espacial das potências o time se envolveu. Convidado pelos soviéticos (já que os historiadores tradicionalmente preferiam o comunismo ao capitalismo), o craque da equipe na época, Danilinho, se tornou o primeiro atleta a viajar no espaço e ver estrelas.


A aproximação com o comunismo seria a causa de mais um desmantelamento da equipe. Eram tempos quentes na política brasileira, e o UHB trocou o nome para Universidade Comunista do Brasil, ou UCB. O time foi convidado por Fidel Castro para disputar uma série de jogos em Havana. Tudo isso em plena ebulição política no Brasil. Até que em 1964 estoura o golpe militar e o UCB é lançado na clandestinidade. Seus atletas participam da passeata dos cem mil e levam muita porrada da polícia. Todos os jogadores são presos e torturados e alguns passam a fazer parte da guerrilha, inclusive o capitão do time, Lamarca. Alguns membros da equipe desaparecem, caso do centroavante Colyer, que foi preso, levado para trabalhos forçados na construção da Transamazônica e nunca mais foi visto. Até que em 1969, numa megaoperação, os historiadores-boleiros-guerrilheiros remanescentes do UCB sequestram o embaixador americano no Brasil. Em troca, exigem a libertação dos companheiros presos, a leitura de um texto contra a ditadura na TV e uma foto autografada do Pelé. Depois do sequestro, o time todo é exilado e cada um vai para um lugar do mundo. Após muitos esforços, Chico Buarque, também exilado, consegue reunir a equipe do UCB para participar de um histórico jogo contra seu time, o Politheama. A partida ─ que teve grande repercussão internacional por ser um símbolo da luta contra as ditaduras sul-americanas, pela paz no Vietnã e pelo uso legalizado do LSD ─ foi vencida pelo UCB por 14 a 2. Enquanto isso, no Brasil, a ditadura assumia o controle do UCB, rebatizando-o para Universidade de Estudos Sociais do Brasil. O UESB, presidido pelo general Ernesto Garrastazu Jefferson, funcionaria como propaganda do “milagre brasileiro”. Mas assim como a economia do país não decolou, o UESB, desprovido de seus melhores jogadores também não conseguiu decolar nos gramados. Enquanto o país vivia os “anos de chumbo”, o UESB vivia seus “anos de pé-de-chumbo”.


Nesse tempo, provando que a dor de barriga não dá uma vez só, mais uma tragédia abala o time. O UESB foi convidado pelo general chileno Augusto Pinochet para uma série de amistosos no país (inclusive contra o Universidad Católica, que seria a inspiração para o time de hoje e que o UESB venceu por 14 a 2). Na volta ao Brasil, o avião do time caiu na cordilheira dos Andes. Castigados pelo frio e pela falta de comida os sobreviventes tomaram a dura decisão de comer os companheiros mortos. Um dos heróis desse episódio foi o lateral João Fabiano, ou JF, como era conhecido na época, que ao ver o desespero de seus companheiros se ofereceu para que todos o comessem.


No final da década de 70 a ditadura lentamente entra em processo de abertura política e os exilados políticos retornam ao Brasil. Ao mesmo tempo, o país vive o clima das “Diretas Já” e o time, reorganizado e rebatizado para Universidade Democrática (UD), lança a “Democracia histórica”, manifesto político-futebolístico que seria copiado descaradamente pelo Corinthians. Mas os anos 80 foram de hiperinflação, o que dificultava a permanência do jogador na equipe, já que o salário que o atleta recebia desvalorizava muito rapidamente. Para piorar a situação, o presidente do UD, Orestes Maluf Jefferson, esvaziou os cofres do clube e se mandou para Ilhas Cayman. A queda do muro de Berlim e a derrocada da URSS desiludiram os atletas-comunistas, que daí pra frente estavam mais é preocupados em garantir o seu e que se dane o resto. O UD voltaria a ter prestígio dentro do governo com a eleição de Fernando Collor, mas a série de escândalos envolvendo o ex-presidente da república abalou a confiança do time e afastou os investidores, num processo que culminou com o misterioso e até hoje não esclarecido assassinato do tesoureiro de Collor e presidente do UD na época, Paulo César Jefferson, o PC Jefferson, e sua namorada.

Na virada do século, não houve o “bug” do milênio, o mundo não acabou e o Universidade Democrática também não. Mais precisamente em 2004, um grupo de estudantes de História da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, resolveram ressuscitar o espírito putão e reorganizaram o time. De passagem pelo Brasil para disputar um jogo da Copa Sul-Americana, o Universidad Católica, após tomar uma surra dentro de campo, serviu de inspiração para que os estudantes rebatizassem o time para Universidad Histórica, ou UH como hoje é reconhecido internacionalmente. As dificuldades foram muitas. Os torcedores fizeram uma vaquinha para comprar o estádio do aterro, a “Arena Histórica”. Com a Lei Pelé facilitando as transferências, frequentemente o UH perde jogadores para outras Universidades. Mas já se disse que o Universidad é como uma fênix, renascendo das cinzas nos momentos mais difíceis. Hoje, o futebol mudou, mas o amor pelo UH só cresceu, haja visto o número cada vez maior de torcedores do Universidad nos estádios. Além disso, mesmo diante da crise mundial, o time conseguiu fechar patrocínio com uma poderosa empresa de material esportivo, a Lambra, e acaba de arrendar um novo estádio, o “Sargentão”, na Ilha do Governador, além de contar com o Centro de Treinamentos UH-Ilha, um complexo com quadras e campos de futebol, hotel, academia, piscinas, salas de reunião e bares, localizado no Quebra-Coco, no Jardim Guanabara. O Universidad conta com uma infra-estrutura de causar inveja aos rivais: departamento de marketing antenado com os novos mercados e as novas tecnologias; corpo cavernoso jurídico com advogados especializados em justiça desportiva; e quadro social ativo sempre em busca de novas áreas de atuação para o UH, como por exemplo, o carnaval. Ainda falta traduzir isso em vitórias. Mas elas chegarão, porque a fênix nunca vai morrer.

Universidad Histórica. Mais que um time. Uma paixão.



Curiosidades sobre o Universidad Histórica


  • O Universidad sempre foi um clube democrático, desde suas origens. Indo na contramão dos demais clubes elitistas e esnobes da época, o UH foi o primeiro a aceitar perebas e pernas-de-pau no seu time.
  • Na década de 80, o pop-star Michael Jackson gravou o disco "USA for Africa", com a renda revertida para as vítimas da fome no continente. O UH, sempre ativo nas campanhas humanitárias, também fez a sua contribuição, realizando uma série de jogos pelos países da África para mostrar às populações locais que havia coisa pior que a fome.
  • Também é conhecido como "Gigante do Aterro", "o mais amado do mundo" e "Flagelo da Candelária"



2 comentários:

  1. Uma verdadeira aula de história... Fiel aos acontecimentos e fatos históricos... Temos que levar essa história aos demais jogadores.

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